Agora é certo. As provas deste ano estão marcadas para o fim de outubro, nos dias 22 e 23. Muitos alunos do ensino médio de todo o País estranharam a data, que já havia sido divulgada pela imprensa. Acostumados com os vestibulares tradicionais, que costumam ter provas entre novembro e janeiro, reclamam que não terão conseguido cumprir todo o currículo do ensino médio a tempo das provas do Enem.
Acontece que o Enem é bastante diferente dos vestibulares convencionais. Enquanto o vestibular cobra conteúdos, o Enem quer saber se o aluno adquiriu competências e habilidades durante a escolarização básica capazes de possibilitar que ele compreenda fenômenos, resolva problemas, construa argumentação e elabore propostas éticas de intervenção na sociedade. Para desenvolver estas competências, pouca diferença faz qual foi o conteúdo ensinado em sala de aula. Para descobrir se ele as acumulou, também não faz diferença quais os conteúdos que caem na prova.
Como o que se avalia, principalmente, são competências, não faz diferença o momento em que a prova será aplicada. De qualquer forma ela vai avaliar, pelo menos, quase 11 anos de vivência do aluno na escola e na comunidade.
É bem verdade que o Enem tem uma proposta de conteúdos mínimos, aqueles necessários para que o aluno possa aprender outros conteúdos quando for necessário em sua vida. Exemplos deles são o ciclo da água, os conceitos básicos de eletricidade, as épocas de rápida evolução industrial, as formas de geração e transformação de energia, genética, gráficos e tabelas, cálculo de área, juros, entre outros. Como são conteúdos mínimos, em geral os alunos tem, ou deveriam ter, contato com eles nos primeiros anos do ensino médio ou até mesmo, em alguns casos, no ensino fundamental. Se alguma escola deixou de passar estes conteúdos mínimos para seus alunos, cabe, agora, aos professores e coordenadores pedagógicos conhecerem bem a proposta de Enem e priorizar nas aulas, ao menos até outubro, os conteúdos que ainda não são de conhecimento de seus alunos.
Qualquer data mais tarde poderia trazer complicações. Como já disse em outros artigos nesta coluna do iG, o consórcio que faz o Enem só tem a capacidade de corrigir o máximo de 100 mil provas por dia. Várias universidades pelo Brasil usam o Enem de forma parcial. Elas precisam da nota do Enem, na maioria dos casos, antes do final do ano ou no começo de 2012. Uma data mais tarde poderia prejudicar estas universidades.
Para ser sincero, acho até que a prova deveria ser antes, porque qualquer problema, como já aconteceu nos dois últimos anos do Enem, fica sem tempo suficiente para uma solução que inclua nova aplicação de provas.
O MEC, se cumprir o que prometeu em entrevista coletiva da presidenta do Inep hoje, avança um pouco para melhorar esta política, que também é de acesso ao ensino superior público. Nesta quarta-feira a presidente do Inep anunciou uma nova prova para o começo do ano que vem. Desta forma teríamos, a partir de 2012, ao menos duas provas do Enem por ano. Claro que muitos vão falar que a ideia de fazer duas provas é aproximar o Enem do SAT americano, que é aplicado sete vezes por ano. Apesar de ser uma ótima ideia fazer mais edições do Enem ao ano, deixar os alunos fazerem quantas vezes quiserem e usar a melhor nota e, por consequência, ter menos candidatos a cada prova, o que move o MEC a fazer duas provas não é isto. Hoje o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e o Programa Universidade para Todos (Prouni) oferecem milhares de vagas no segundo semestre, e os candidatos são obrigados a usar a nota do Enem do ano anterior. E, ainda pior, muitos desavisados não fazem o Enem no ano anterior e aí não podem concorrer as estas vagas, que são públicas ou resultado de renúncia fiscal. Com um Enem no início de maio, isto, enfim, deve ser resolvido.
Apesar deste avanço, o MEC ainda precisa tomar mais providencias para aprimorar o Enem. O Inep já anunciou que fará uma seleção pública para alimentar seu banco de questões para o Enem. Isto precisa ser feito logo. Nas últimas provas, como boa parte das questões tinha textos base publicados recentemente, em relação à data da prova, em jornais, revistas e sites, provavelmente a organização da prova não utilizou questões pré testadas em grupos representativos dos alunos concluintes do ensino médio, como deveria ser. Para o Enem deste ano não teremos este banco de dados.
A divulgação do relatório pedagógico das provas, que desde 1998 era feita religiosamente, não aconteceu nas duas últimas (ou quatro, se considerarmos os erros) edições do Enem. Isto dificulta demais o trabalho de quem acompanha e estuda o Enem. Para que tenham clareza, até hoje não dá pra saber o que significa cada nota do Enem. Sabemos que 500 é a nota média dos alunos concluintes do ensino médio (menos em redação), mas não sabemos qual é a escala que coloca esta nota para cima ou para baixo de 500.
A Redação no último ano foi um grande problema. Só tinha direito a uma terceira opinião o aluno que tivesse uma diferença de 500 pontos entre os dois primeiros corretores. Quem, por exemplo, recebeu nota 300 de um corretor e 800 de outro, não teve direito a um novo corretor e ficou com nota 550, a média entre as duas. Em muitos casos, esta regra foi a diferença que tirou alunos da universidade pública ou pelo menos dos cursos mais concorridos. A solução apresentada pelo MEC é uma nova correção para redações em que a diferença de nota, entre dois corretores, seja acima de 300 pontos. Ainda não é a melhor solução.
Estes são alguns dos principais problemas a serem resolvidos. Existem outros, mas estes já possibilitam o início de nossas discussões sobre o Enem e sobre como melhorá-lo. Ademais, como já estamos com a data marcada, esta coluna ajudará alunos, professores, pedagogos e dirigentes escolares a entender melhor a prova do Enem e como fazer para ter o melhor resultado possível nela. Aqui teremos propostas de aulas, análise de questões de provas anteriores, o detalhamento das 30 competências cobradas pelo ENEM, a elucidação dos seus cinco eixos cognitivos, entre outras coisas.
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