A relação de avós e netos está mais próxima do que nunca, já que cada vez mais mães optam por deixar seus pequenos aos cuidados de suas mães e sogras. No entanto, essa relação deve ser regrada, para que não haja divergências entre a criação dos pais e mimos excessivos dos mais velhos.Refletindo sobre sua experiência em consultórios e como avô, o pediatra Dr. Fabio Ancona Lopez e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) escreveu o livro "Avós e Netos - Uma forma especial de amar", uma espécie de manual de convivência.
Ele explica que o crescimento do número de avós que cuidam dos netos acontece em dois casos: com mães jovens que precisam acabar a faculdade ou trabalhar e com as mães executivas, que têm pouco tempo pra cuidar dos filhos e acabam deixando uma parte dessa missão com as avós.
Com o aumento desse fenômeno, é importante estabelecer limites. "Na hora que a avó passa a ser a cuidadora, essa missão dela deve ser combinada com a mãe. É interessante que haja uma conversa pra definir limites", alerta.
"A avó é mais liberal, mas essa liberalidade não deve entrar em choque com conceitos que o pai e a mãe têm, principalmente não deve contrariar condutas. Vemos muito isso, de crianças acima do peso e a gente fala para segurar as guloseimas, mas a mãe diz ‘não adianta, a vó libera tudo’. Isso precisa acertar, a avó não pode liberar guloseima que não está sendo bom pra criança", completa.
Nessa relação, a criança também tem sua parte. "Ao mesmo tempo, ela tem que ter limite. O que não pode fazer com a mãe perto, não pode fazer com a avó, senão fica uma dupla mensagem."
Dr. Ancona revela que, de fato, a tendência é que os avôs sejam mais carinhosos, mas a ideia de que eles dão prazer e os pais dão educação - apenas - é rebatível, já que os avôs podem muito bem dar os dois ao mesmo tempo. Até porque, carinho nunca é demais.
"Cercar de carinho nunca é ruim. O que não pode é o carinho servir como forma de chantagem, do tipo: ‘faz isso porque senão a vovó fica triste’ ou ‘come tudo que senão o vovô fica chateado’. Não pode", atenta ele, que complementa dizendo que a relação avós e netos deve ser uma mão-dupla: "O que acontece muitas vezes é que avós e avôs são distantes, sérios, fechados, sisudos, que não têm tantas relações com o neto. Mas são eles que perdem".
Doçuras e travessuras
Outro ponto importante é a alimentação. "Há 40 anos não existia a grande preocupação com a prática do aleitamento materno exclusivo até o sexto mês. Normalmente, as crianças já almoçavam, jantavam, era algo mais precoce. Hoje sabemos que isso não é bom, pode predispor a obesidade", aponta o pediatra, que também comenta que os tais chazinhos - para cólica, tosse e afins - também estão proibidos.
"É importante que os avôs entendam que as mudanças no cuidado não são modismos pediátricos, é científico."
O médico observa que é no sentido da superalimentação que os avôs devem ficar espertos. "Agradar pela guloseima não é bom, faz com que a criança associe alimentação com carinho, quando são coisas completamente diferentes", atenta.
Por fim, Dr. Alcona dá um recado: "Acho que a coisa importante é: avós aprenderem com os netos. Acho que fica muito essa coisa de ‘avô cuida, cria, alimenta’, mas avô e avó devem estar abertos para aprenderem com os netos".
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Ele não diz isso por acaso. O pediatra tem uma neta de 14 anos - que, por um acaso, escreveu a orelha de seu livro. Eles sempre saem juntos para comer e o avô é só elogios para sua pequena.
"Ela tem a cabecinha muito privilegiada e, de vez em quando a gente conversa, sai juntos pra comer, e cada vez que temos contato, ela me ensina coisas muito importantes e interessantes. Ela me ensinou um respeito pelas pessoas no sentido de ‘acho que cada um tem que fazer o que tem na cabeça e responder pelos próprios’. Os adolescentes têm isso do respeito pela individualidade mais presente." Ou seja, "estar aberto para rejuvenescer com os netos".
Por Ana Paula de Araujo (MBPress)
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